Ciência e Tecnologia

Vida em Titã? NASA detecta anomalias atmosféricas na lua mais misteriosa de Saturno

Titã, lua de Saturno com lagos de metano e uma atmosfera densa, está de volta aos holofotes da ciência

Titan, a lua de Saturno NASA/JPL-CALTECH/SPACE SCIENCE INSTITUTE

De todas as luas do sistema solar, poucas cativam a imaginação como Titã, o maior satélite de Saturno. Com sua atmosfera densa, clima de metano líquido e geografia quase terrestre, ela sempre foi uma candidata ideal para imaginar formas de vida além da Terra.

ANÚNCIO

Clique para receber notícias de Tecnologia e Ciências pelo WhatsApp

Agora, a NASA a colocou de volta em evidência. Cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) confirmaram a detecção de uma anomalia química na atmosfera superior de Titã que não pode ser explicada por processos previamente conhecidos. A observação foi possível graças a uma análise extensa de dados coletados pela sonda Cassini antes de seu grande final em 2017, complementada por uma modelagem recente de espectrômetro infravermelho.

Foto: Titan, a lua de Saturno

A anomalia envolve uma distribuição incomum de hidrocarbonetos complexos, especialmente compostos que normalmente se decompõem rapidamente na atmosfera, mas que aqui parecem estar em concentrações estáveis. Algo os está regenerando. E isso... não deveria acontecer.

Uma química que não corresponde à química?

De acordo com a equipe liderada pela astrobióloga Sarah Hörst, da Universidade Johns Hopkins, o que eles encontraram na atmosfera de Titã é algo que não esperavam: um excesso de ciclohexano, etano e outros hidrocarbonetos pesados ​​em altitudes onde deveriam ter sido destruídos pela radiação solar.

“Modelos preveem que essas moléculas teriam uma vida útil muito curta, mas elas estão sendo mantidas e até parecem aumentar de concentração em determinados momentos”, explica Hörst. A explicação? Ainda não há uma única. Mas, entre as hipóteses em pauta, uma se destaca: processos biológicos ocultos.

A lua de Saturno Titan pode ter lagos fantasmas e cavernas ocultas

Não estamos falando de minúsculos alienígenas caminhando sobre poças de metano, é claro, mas sim de reações microbianas hipotéticas que poderiam estar produzindo ou reciclando essas substâncias, assim como certos organismos na Terra metabolizam compostos tóxicos.

ANÚNCIO

Vida em uma sopa fria de metano?

Titã é tão estranha que, em certo sentido, é familiar. É o único lugar conhecido, além da Terra, com líquidos estáveis ​​na superfície. É claro que esses líquidos não são água, mas metano e etano. Seus lagos, suas chuvas e até mesmo sua erosão geológica são todos à base de hidrocarbonetos.

A temperatura média da superfície de Titã é de cerca de -179°C, o que quase elimina qualquer possibilidade de água líquida. Mas alguns cientistas teorizaram que poderiam existir formas de vida baseadas em metano. Algo como bactérias extremófilas, mas não apenas tolerantes ao frio e ao gás: elas dependem deles para sobreviver.

PLANETARY SCIENCE INSTITUTE Europa Press (Sebastian Carrasco/Europa Press)

A nova descoberta alimenta essa possibilidade. Ela não prova a existência de vida, mas levanta uma questão preocupante: qual mecanismo está gerando esses compostos em lugares onde eles não deveriam existir?

Cassini falou do ado, e a ciência ouviu

O interessante é que essa anomalia não foi detectada em tempo real, mas sim pela revisão de dados antigos. A sonda Cassini, que orbitou Saturno entre 2004 e 2017, ou perto de Titã mais de 120 vezes e capturou toneladas de dados sobre sua atmosfera, geologia e campos magnéticos.

Nos últimos anos, esses dados foram reanalisados ​​com técnicas modernas de aprendizado de máquina e inteligência artificial, o que tornou possível extrair padrões antes invisíveis. Foi justamente um algoritmo que detectou a inconsistência química, marcando um “outlier” nos espectros coletados durante múltiplos sobrevoos.

A NASA agora está usando modelos climáticos tridimensionais da atmosfera de Titã para tentar reproduzir o fenômeno. Mas, até o momento, nenhum conseguiu simular essa estabilidade anômala de hidrocarbonetos.

Drangonfly: A libélula robótica que buscará respostas

A anomalia chega no momento em que a NASA se prepara para lançar a missão Dragonfly, um drone voador autônomo que pousará em Titã em 2034. Seu objetivo será analisar a superfície e a atmosfera em busca de condições prebióticas ou sinais de processos químicos complexos.

Conceito artístico: Dragonfly voando sobre as dunas da lua Titan de Saturno NASA/JOHNS HOPKINS APL/STEVE GRIBBEN

A Dragonfly não só poderá voar entre diferentes regiões de Titã — graças à sua baixa gravidade e atmosfera densa — como também terá sensores capazes de estudar a química orgânica do solo e do ar com uma precisão sem precedentes.

A anomalia recém-detectada pode alterar seu plano de voo. Se os cientistas conseguirem triangular áreas com maior presença desses compostos, o drone provavelmente será redirecionado para investigar ali mesmo.

Se não é vida, o que é?

Sempre que uma anomalia surge fora da Terra, a ciência tenta primeiro esgotar as explicações naturais. Pode ser uma reação fotônica desconhecida, ou talvez interações com o campo magnético de Saturno que alteram o equilíbrio químico. Há também a possibilidade de que a fonte dos hidrocarbonetos esteja mais próxima da superfície e que os ventos os estejam elevando.

LEIA TAMBÉM:

ChatGPT jogou uma partida de xadrez contra um programa Atari de 1977, resultado: foi humilhado

Proxima b revela segredos: James Webb detecta atmosfera, água e vestígios de vida no exoplaneta

Nintendo Switch 2 quebra o recorde de vendas da empresa

Mas o problema é que nenhuma dessas hipóteses atuais resolve a estabilidade ou o padrão repetitivo observado. É como se algo estivesse mantendo o sistema químico em um equilíbrio não natural.

E na ciência planetária, quando algo não se encaixa nos modelos, há dois caminhos: revisar o modelo... ou assumir que há algo mais acontecendo.

ANÚNCIO

Tags


Últimas Notícias